Matheus Sussai & Marco Soares

CINEMA, HISTÓRIA E ENSINO: CONHECIMENTOS PRÉVIOS DE ALUNOS SOBRE OS CINEMAS EM LONDRINA
Matheus Henrique Marques Sussai
Marco Antonio Neves Soares
UEL


Londrina: campo histórico e símbolo de progresso
Estudar a cidade de Londrina com os alunos do Colégio Estadual Tsruro Oguido ultrapassa os fins acadêmicos, pois ao mesmo tempo, trabalhamos com a vida desses alunos, a sua existência, dos seus pais, os seus cotidianos, tudo entra em questão quando o tema é Londrina, a cidade em que muitos desses alunos nasceram e habitaram a maior parte de suas vidas. Essa apresentação do campo histórico se faz necessária aqui, pois “Londrina: 80 Anos” foi escolhido como nome do projeto devido ao octogésimo aniversário da cidade no ano de 2014, e todos os trabalhos e participantes estão vinculados a essa cidade de alguma maneira.
           
Sobre o aluno e sua percepção da história e relação com a história local, Arthur H. L. Lobo e Pedro A. dos S. Luiz (2014, p.220) dizem:

No sentindo de afirmar que os alunos fazem parte da História, a percepção da História local, por ser mais próxima da realidade do aluno, pode ser o catalisador desse processo perceptivo. É necessário que o aluno entenda que em seu cotidiano ele está escrevendo a história.
           
Quando tratado o tema da história de Londrina dentro das salas de aula, muitos alunos acabam lembrando assuntos emblemáticos e fazendo relações de uma visão hoje conhecida como pioneira. Citam palavras-chaves, tais como: Pequena Londres, cidade do Café, Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), entre outros. O espaço que temos aqui é pequeno para nos aprofundarmos nesse tema, mas é necessário ressaltar, como nos mostra o historiador José Miguel Arias Neto (2008), que a CTNP se utilizou de um instrumento de propaganda fortíssimo para a venda de terras da região de Londrina, e que esta acabou ficando caracterizada, propagandisticamente, como a cidade da fertilidade e do progresso.

O historiador ainda diz:

É muito significativo que, quando se fala das razões do progresso, é à cidade e ao planejamento urbano que se refere a propaganda. Ao longo do tempo, campo e cidade vão adquirindo, cada qual, significações específicas: o campo é a terra fértil, local de trabalho, fonte de riqueza; a cidade é sede jurídica, administrativa, planejada urbanisticamente, local de comodidade onde os homens encontram a alegria de viver. Essas representações tiveram uma longa permanência na história de Londrina. (ARIAS NETO, 2008, p. 11).

           
No início da década de 1920, o governo estadual cedeu terras da região para empresas privadas de colonização, sendo uma boa parte do norte do Paraná deixado para a CTNP, subsidiária da firma Paraná Plantations Ltda., que era responsável pela venda de lotes a pequenos agricultores e o incentivo ao cultivo das lavouras de café. Londrina foi criada em 1934, e a instalação do município ocorreu no dia 10 de dezembro, sendo o nome dado em homenagem à cidade de Londres – “Pequena Londres”, pelo Dr. Domingues Sampaio, um dos primeiros diretores da CTNP. (HISTÓRIA DA CIDADE, 2015).

A importância de trabalhar um tema como o cinema na sala de aula com os alunos, também está no fato de que assim conseguimos abrir discussões a respeito de outras temáticas, o próprio cinema, que não é tão lembrado pela historiografia pioneira. Foram discutidos alguns nomes dentro da sala de aula onde foi possível fazer essa ligação com a visão da cidade em progresso. HikomaUdihara (1882-1972) foi um deles, nome que carrega o reconhecimento como autor do primeiro registro fílmico dessas terras antes da criação da cidade. O primeiro “cineasta” era contratado da CTNP e utilizava suas películas para estimular a vinda dos imigrantes japoneses para a posteriormente conhecida região londrinense. Ou seja, essas películas eram instrumentos de propaganda para potencializar as vendas de terras (MIOTO, 2015).

A partir da história de Londrina, principalmente do cinema em Londrina e os seus primeiros realizadores, passamos a discutir como o cinema passou por mudanças perceptíveis, e trataremos algumas dessas transformações na análise dos questionários.

Discussões metodológicas: o aluno e o questionário
Essa discussão precisa de um espaço único, onde podemos tratar o aluno em si, o seu cotidiano, e a sua importância para a História. Nós não queríamos um aprendizado que fosse realizado com o foco total e unicamente no professor, ignorando o aluno, mas sim que este fosse tido também como construtor desse conhecimento. A utilização do questionário de conhecimentos prévios é o primeiro passo para isso, pois o aluno também conhece, possui uma vida fora da escola, e essa tem um papel importante para o ensino de história. O aluno deve ser tido como “[...] agente de sua formação com ideias prévias e experiências diversas [...]”, e o professor um “[...] investigador social e organizador de atividades problematizadoras [...]” (BARCA, 2004, p. 133).

É tomando o aluno do colégio, e as suas experiências como o ponto de partida para com o trabalho de conteúdos, estes sendo desenvolvidos com a cultura experiencial dos alunos, que se objetiva “construir, em sala de aula, um ambiente de compartilhamento de saberes.”, é necessário que a sala de aula seja transformada “em um espaço de conhecimentos compartilhados.” (SCHMIDT & CAINELLI, 2009, p. 54-55).

Nos questionários residiam as seguintes questões: 1) Você tem (ou tinha) o hábito de ir ao cinema? Com que frequência? Com quem você geralmente vai (ou ia)? ; 2) Quais tipos de filmes você costuma(va) assistir? De quais gêneros? Eles geralmente são (eram) nacionais ou estrangeiros? ; 3) Quais cinemas de Londrina você conhece? Conversando com seu companheiro de atividade, descreva quais são as principais diferenças das salas de cinema de antigamente para as atuais. ; 4) Você acha que é possível aprender História no cinema? Você se lembra de algum filme que assistiu em que aprendeu algo? Conte sobre sua experiência.

Agora apresentaremos algumas respostas e discutiremos as informações que nos fornecem esses questionários de conhecimentos prévios respondidos pelos alunos do oitavo ano (8º A) do Colégio Estadual Tsuru Oguido.

Discutindo Cinema, Londrina e História: uma análise dos questionários
Como mostrado acima, o questionário abordou quatro questões dissertativas e seus subitens. Procuramos as respostas que mais se assemelharam para uma discussão em sala, mas não deixando de lado as respostas únicas ou menos abordadas.
           
Foram analisados 12 questionários, cada um referente a um aluno e seus pais – ou parentes mais próximos, preferencialmente os que moravam na mesma casa que o aluno. Ou seja, a pesquisa acontece com 12 alunos, todos do oitavo ano do Colégio Estadual Tsuru Oguido. Desses alunos, um tinha 16 anos, outro 14, e o restante, os outros dez alunos, possuíam 13 anos.

Na primeira questão a maioria das respostas apontaram que os alunos frequentavam o cinema, alguns mais que outros, mas uma parcela alta de telespectadores é encontrada na sala de aula. Das 12 respostas, apenas uma se limitou a dizer que não ia ao cinema.

A respeito da segunda questão, as respostas foram mais diversificadas, onde a maioria dos alunos apontaram que os filmes que mais assistiam eram estrangeiros, mas surpreendentemente, os filmes brasileiros, principalmente de comédia, foram bem citados nas respostas. A única resposta que não se assemelha às outras, faz referência à aluna que disse não frequentar o cinema.

Sobre a terceira questão, a maioria dos cinemas apontados eram os atuais, que se encontravam nos shoppings londrinenses, sendo alguns outros lembrados pelos parentes: Cine Vila Rica, Cine Com-Tour, Cine Teatro Ouro Verde, entre outros. Tivemos muitas respostas observando as salas que exibem filmes 3D, na atualidade, uma diferença muito pontuada entre os alunos. Além disso, obtivemos observações quanto ao cinema mudo, ao conforto das salas atuais em comparação às antigas (muitos ainda apontavam para a inferioridade do tamanho), à climatização das salas, e a observação que mais apareceu foi a de que as salas de cinema passaram a fazer parte Shoppings, sendo muito raro encontrar, hoje, uma sala de exibição fílmica fora de um Shopping Center.

A quarta questão mostrou como os grandes temas consagrados na historiografia são realmente muito fortes, pois a maioria dos alunos respondeu que aprenderam sobre a Segunda Guerra Mundial nos filmes, sendo poucas exceções encontradas, como exemplo, a colonização brasileira. Os filmes citados sobre a Segunda Grande Guerra foram diversos, então cabe aqui apresentar outros que foram nomeados: o filme “300” foi bastante lembrado, “Tropa de Elite”, filmes referentes à vida de líderes de religiões também são muito citados, e até filmes dedicados ao público infanto-juvenil, como “Percy Jackson e o Ladrão de Raios” foram comentados por ensinar “um pouco”, segundo o aluno, sobre mitologia grega.

Considerações Finais
O que buscávamos e queríamos enfatizar, com o auxílio do questionário, eram as transformações das salas de cinema: como eram essas salas, como funcionavam, que filmes costumavam passar, e as suas diferenças para com o cinema contemporâneo.

Outras observações referentes aos gêneros de filmes, não menos importantes, enfatizavam que antes eram poucas as opções de filmes, sendo que hoje você pode assistir ao que quiser indo ao cinema. A produção em massa de filmes possibilitou que o cinema agradasse não só uma parcela da sociedade, mas que se consagrasse para todos, com diferentes tipos de filmes, para todos os gostos variados.

Queremos enfatizar que com o questionário de conhecimentos prévios, o tema da História regional e sendo os cinemas a abordagem desses estudos, objetivamos mostrar ao aluno como o cotidiano dele também faz parte da História, e com a história local é mais fácil fazer essa ligação e debater em sala, tentando mostrar para o aluno que ele também é agente do seu próprio conhecimento, e agente da História, a mesma que ele tanto estuda dentro da sala de aula.

Referências
ARIAS NETO, José Miguel. O Eldorado: representações da política em Londrina (1930-1975). Londrina: EDUEL, 2008.
BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In: Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED) / Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, 2004, (p. 131-144).
HISTÓRIA DA CIDADE. 2015. Disponível em: http://www.londrina.pr.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3&Itemid=5 Acessado em 29 de Março de 2015.
LOBO, Arthur H. L.; LUIZ, Pedro A. dos S. Ensino de História Local: os conhecimentos prévios como instrumento mediador para a (des)construção da história de Londrina. In: RAMOS, Márcia E. Teté (Org). Pesquisa e ensino na construção de uma literacia histórica: atividades do PIBID história da UEL. Londrina: UEL, 2014. (p. 219-229).
MIOTO, Luis Henrique. Breve História dos Realizadores. Breve História do Cinema Londrinense. In: Cinema de Londrina. Disponível em: http://cinemadelondrina.blogspot.com.br/p/breve-historia-dos-realizadores.html Acessado em 29 de Março de 2015.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2009.

5 comentários:

  1. Prezados Marco e Matheus
    Parabenizo pela iniciativa de pensar o cinema como tema para a sala de aula. Gostaria de saber se houve atividades praticas com os alunos, por exemplo a realização de um video com imagens e historia da cidade e qual a idade dos alunos envolvidos na pesquisa.
    Obrigada
    Maria Cristina Pastore

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Prezada Maria Cristina Pastore,
      Obrigado pela pergunta e pelo interesse. Em relação às atividades práticas, nós não realizamos nenhuma exibição fílmica para interpretação e análise dos alunos. Os questionários de conhecimentos prévios foram a primeira parte da nossa atividade em sala de aula, sendo a segunda parte uma atividade com seis artigos do jornal "Folha de Londrina" (1977-1999), todos fazendo referência ao Cine Teatro Ouro Verde, pois nosso objetivo era discutir as salas de cinema da cidade de Londrina, com o foco voltado para o Cine Ouro Verde. Infelizmente, o texto que discute essas interpretações dos artigos dos jornais feitas pelos alunos, foi apresentado em um evento mas a publicação ainda não saiu. Sobre a idade dos alunos, foram doze alunos no total, sendo dez com 13 anos, um com 14, e mais um com 16.

      Espero ter ajudado.
      Muito Obrigado,
      Att.

      Matheus H. M. Sussai

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  2. Rafael Moura Roberti13 de maio de 2015 às 07:08

    A partir de sua experiência nessa pesquisa quais são as suas considerações sobre levar os filmes que eles não assistem para a sala de aula?!

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    1. Olá Rafael,
      Obrigado pela pergunta e pelo seu interesse. Trabalhos com exibição fílmica, tanto dos filmes mais famosos, quanto daqueles mais desconhecidos pela sociedade em geral, são sempre muito interessantes de serem feitos em sala de aula. O próprio PIBID, programa do qual faço parte, no ano de 2014, realizou trabalhos sobre exibição fílmica e história de Londrina, mas não é o caso do meu. Como pode perceber pelo texto, trabalhamos (eu e minha dupla) com as salas de cinema na cidade de Londrina, sendo os questionários de conhecimentos prévios o primeiro passo, pois assim pudemos trabalhar com os alunos a partir daquilo que eles já conhecem sobre o tema. Antes de delimitar esta temática para as atividades do ano de 2014, pensamos na exibição de alguns "filmes", ou melhor, cenas gravadas pelos primeiros "cineastas" de Londrina. Hikoma Udihara, por exemplo, usava suas películas para divulgação das terras que posteriormente seriam conhecidas como londrinenses. Fomos atrás dessas películas, pois elas existem, mas não podem ser utilizadas nem reproduzidas, devido a fragilidade do documento e da precariedade da preservação fílmica atual e do acervo da qual faz parte.
      Espero ter esclarecido.
      Muito obrigado,
      Att.

      Matheus H. M. Sussai

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