Maytê Vieira

A HISTÓRIA NOS FILMES DE FICÇÃO E SEU USO EM SALA DE AULA
Maytê Vieira
UEPG

Cada filme é um primeiro rascunho. Levanta questões e inspira os estudantes a aprenderem mais. (Oliver Stone)
  
Oliver Stone é um renomado cineasta norte-americano, responsável pela direção de sucessos como Platoon (1986); Nascido em 4 de julho (1989); JFK – A pergunta que não quer calar (1991); Alexandre, o Grande (2004) entre outros. O próprio Oliver já disse em diversas ocasiões que tem prazer em fazer filmes históricos e muitas vezes já foi criticado por suas escolhas e pela forma como descreve os personagens e suas narrativas. Muitos diretores usam as narrativas históricas para fazer filmes. Tanto quanto a literatura, a História é uma fonte de inspiração constante, principalmente para Hollywood, de seus estúdios saem inúmeros filmes históricos desde que se iniciou o cinema de ficção.

Mas qual a influência e importância do cinema, como estes filmes históricos que representam fatos e pessoas podem ser utilizados pelo ensino de História e como sair do lugar comum de usá-los somente para apontar o que não corresponde aos fatos? Esta é a intenção do debate inicial que propomos neste texto utilizando as ideias de alguns filmes e discutindo com alguns autores.

No século XIX quando a história se afirma como disciplina acadêmica, as fontes consideradas confiáveis se restringiam aos documentos escritos, visto que, de acordo com Janotti (2005. p. 11), permitiam a reconstituição da história em suas relações de causa e efeito.  A partir da década de 1930, a chamada École des Annales, pregou a interdisciplinaridade e, contestando os estudos históricos que privilegiavam somente o político, os historiadores passaram a rever o que consideravam fonte para a história. Em 1949 é publicado Apologia da História ou O ofício do historiador, no qual Marc Bloch diz o que entende por história e documento histórico:

Como primeira característica, [do conhecimento histórico] o conhecimento de todos os fatos humanos no passado, da maior parte deles no presente, deve ser, segundo a feliz expressão de François Simiand, um conhecimento através de vestígios. Quer se trate das ossadas emparedadas nas muralhas da Síria, de uma palavra cuja forma ou emprego revele um costume, de um relato escrito pela testemunha de uma cena antiga ou recente, o que entendemos efetivamente por documentos senão um "vestígio" quer dizer, a marca, perceptível aos sentidos, deixada por um fenômeno em si mesmo impossível de captar? (BLOCH, 2002. p. 73)

Décadas depois para Foucault (2000. p. 7-8) o documento não poderia mais ser visto pela história como “matéria inerte através da qual ela tenta reconstituir o que os homens fizeram ou disseram, o que é passado e o que deixa apenas rastros”; a história deveria entender o documento como algo construído pelos homens que o deixaram apontando “formas de permanências, quer espontâneas, quer organizadas”. Ou seja, o documento não poderia mais ser visto como algo objetivo.

“[...] o historiador tomou consciência de que o documento é um monumento, dotado de seu próprio sentido, a que não pode recorrer sem precaução. Cumpre então restituí-lo ao contexto, apreender o propósito consciente ou inconsciente mediante o qual for produzido diante de outros textos e localizar seus modos de transmissão, seu destino, suas sucessivas interpretações, graças à lingüística, à psicologia, à sociologia...” (DUMOULIN, 1993. p. 244)

Em 1974, Jacques Le Goff e Pierre Nora – historiadores que já faziam parte do quadro da revista dos Annales – lançam uma obra, em três volumes, intitulada Faire de l'Historie, que no Brasil foi denominada História: Novos problemas; Novas abordagens; Novos objetos. O volume dedicado aos novos objetos relacionou uma série de vestígios – nas palavras de Bloch – que poderiam ser usados como fontes de análise das mais variadas naturezas, entre eles as imagens, que “são representações de ideais, sonhos, medos e crenças de uma época.” (SILVA; SILVA, 2006. p. 199).

Para Chartier (1993), a imagem, que era considerada material de análise somente para a história da arte ou especialistas nela é, há alguns anos, fonte para o historiador independente de seu campo, pois ela tanto pode ser usada para doutrinar, para convencer, quanto para expor idéias e modos de pensar compartilhados por determinados grupos ou culturas. Entretanto, de acordo com Meneses (2003), as disciplinas afins da História lidam com as imagens de forma muito mais completa;

[...] estamos ainda longe do patamar já atingido na Sociologia e na Antropologia: o objetivo prioritário que os autores propõem (como, aliás, no tradicional comentário de texto à francesa) é iluminar as imagens com informação histórica externa a elas, e não produzir conhecimento histórico novo a partir dessas mesmas fontes visuais. [...]
           
Corroborando isto Cardoso e Vainfas (1997. p. 378) dizem que qualquer vestígio deixado pelo homem se reverte em trabalho para o historiador decifrar e buscar compreender os “discursos que exprimem ou contêm a história [...]”. Com estas novas concepções, o cinema foi incorporado no conjunto de documentos utilizados pelo historiador através de filmes “mudos, sonoros e coloridos, plantas de salas de exibição de filmes, letreiros, legendas, técnicas de filmagem, filmes de propaganda política [...].” (JANOTTI, 2005. p. 15). Na opinião de Napolitano (2005), os filmes, quando representam um momento ou um ambiente histórico em seus cenários, figurinos ou ornamentos, passam a impressão de realidade, como se fossem uma representação fiel do passado. Para analisarmos um filme, temos que “entender o porquê das adaptações, omissões, falsificações que são apresentadas [...].” (NAPOLITANO, 2005. p. 237).

Em escala menor e também reproduzindo o que ocorre em escala internacional, o cinema, seja documental, seja de ficção, é um segundo domínio que vem crescendo na atenção dos historiadores, embora com material mais disperso (o vídeo ainda está num patamar imediatamente anterior). Mas a reflexão sobre as relações entre o cinema e a História tem-se multiplicado sensivelmente em seminários, mostras, cursos, coletâneas, monografias. (MENESES, 2003. p. 20-22)

Os estudos referentes ao cinema estão avançando ao considerá-lo como uma legítima fonte histórica, embora na opinião de Meneses (2003, p. 28) os trabalhos existentes sejam um tanto superficiais, precisando aprofundar ainda mais as perspectivas de análise histórica. A imagem deve ser tratada como instrumento e a sociedade como objeto das pesquisas que devem partir sempre da “formulação de problemas históricos, para serem encaminhados e resolvidos por intermédio de fontes visuais, associadas a quaisquer outras fontes pertinentes.” (MENESES, 2003. p. 28).

Pesquisas pioneiras envolvendo o cinema foram feitas pelo historiador Marc Ferro, que publicou um dos artigos que constituem a obra História: novos objetos (1974). Intitulado “O filme: uma contra-análise da sociedade?” [original de 1971], o artigo discute a importância da película fílmica como fonte e as formas como pode ser tratada e analisada pelos historiadores.

Contudo, a história ainda tem um longo caminho a percorrer até conseguir desenvolver os estudos com as imagens em todas as suas possibilidades. Prova disto são as atuais contestações à metodologia de Ferro. Conforme Napolitano (2005), sua visão privilegia o documentário como fonte de análise, argumentando que sofre menos manipulação em sua produção, enquanto pesquisadores como Pierre Sorlin (sociologia) e Eduardo Morettin (história) defendem que isto pouco importa: o que importa é o discurso do filme e a análise de sua narrativa.

Quando foi apresentado pelos irmãos Lumiere no final do século XIX, o filme era considerado divertimento de feira, produto de quermesse, atrativo somente para os iletrados, miseráveis, populacho inculto. A primeira intenção deles era filmar a vida, numa correspondência entre a imagem animada e o real posto que a imagem tem um efeito marcante sobre a memória e o filme, por sua vez, tem um efeito de guardar os momentos para a posteridade. De acordo com Le Goff (2003) a memória tem a função de conservar informações para atualizá-las e às impressões do passado que representa. Sendo assim, o cinema, como a música, faz parte da memória involuntária que suscita sentimentos e lembranças, momentos e acontecimentos, “experiências fixadas que, no entanto, não estão estáticas, mas sempre relidas no presente.” (PEREIRA, 2007. p. 158-169). O cinema pode ser utilizado como lugar de memória, como o local que transmite as memórias ocultadas e sua capacidade de demonstrar, através das imagens, os relatos e os sentimentos que não são tão óbvios no documento escrito. A análise das manipulações que são feitas nas narrativas e imagens cinematográficas pode demonstrar a fragilidade das certezas e seus limites.

[...] o cinema é fonte de história, não somente ao construir representações da realidade, específicas e datadas, mais fazendo emergir maneiras de ver, de pensar, de fazer e de sentir. Ele é fonte para a história, ainda que como documento histórico, o filme não produza, nem proponha nunca um "reflexo" direto da sociedade, mais uma versão mediada por razões que dizer respeito à sua função. Entretanto ele é fonte sobre a história, tal qual ela se constitui, na medida em que existem processos de escrita cinematográfica comparáveis àqueles da história mesma. (LAGNY, 2009. p. 105-106)

Em seu início, o cinema era desprezado pelos intelectuais e pela elite que se proclamava culta, sendo até 1960, desprezado também pela academia, mas as mudanças no conceito de fonte histórica mudaram esta visão e “hoje, o filme tem direito de cidadania, tantos nos arquivos, quanto nas pesquisas.” (FERRO, 2010. p. 9).

Sendo assim o cinema, mais que fonte ou objeto, é também agente da História, haja vista as possibilidades de compreensão da sociedade que produz e recepciona os filmes, no entendimento das mudanças sociais. Cada época entende de forma diferente o mesmo filme e o que produz significado para uns, não representa nada para outros. E a leitura histórica do filme e a leitura cinematográfica da História permitem atingir pontos nem sempre claros nas análises históricas.

Pertencente ao campo de estudos da História Cultural, as imagens – parte da composição de um filme – são representações dos homens sobre si próprios e sua época, seus valores, sonhos, medos, estando repletos de conteúdos simbólicos nem sempre óbvios que são entendidos de forma diferente em cada sociedade. “Da pintura ao cinema, da história em quadrinhos à fotografia, do desenho à televisão, tais imagens povoam a vida a vida e a representam, oferecendo um campo enorme às pesquisas dos historiadores.” (PESAVENTO, 2005. p. 89).

Na esteira do trabalho de Ferro, surgiram inúmeros outros que discutem as relações entre a história e o cinema visto que, o filme, imagem em movimento, tem o poder de transportar o público para outra realidade, por passar a impressão de as imagens terem sido capturadas do acontecimento, do real. Por este prisma o cinema é, por excelência, uma fonte histórica de importância inquestionável na história contemporânea por sua capacidade de atingir a todos, de moldar mentalidades, sentimentos e emoções além de alcançar, com grande facilidade, parcelas variadas de todas as camadas sociais e culturais.

Entretanto, como qualquer outro documento, ele só se torna fonte quando é utilizado por um historiador na busca por uma resposta, por um sentido para sua existência e sua importância. Sem um objetivo para sua busca o documento, seja ele textual ou imagético, perde seu sentido e torna-se apenas um vestígio de outro período.

São muitas as possibilidades de interpretação de um filme, como qualquer documento histórico, o cinema é influenciado pelo seu tempo, pelo meio onde está inserido, evidenciando a marca de seus produtores - estes também impregnados dos conceitos, acontecimentos e modo de ver a vida de sua época. Segundo Nova (1996), a maior parte do conteúdo de um filme, especialmente os comerciais, é ditada pelos gostos do público que, por sua vez é influenciado pelo filme, numa relação de troca constante. Sendo assim, podemos entender um determinado momento através do que é passado nas narrativas dos filmes. Neste sentido, Lagny (2009) chama atenção sobre o cuidado que se deve ter no trabalho com o cinema como fonte histórica. Primeiro porque ele não é somente um testemunho isolado, faz parte de um conjunto de interações sociais e representações. Cada grupo lê o filme conforme seu conhecimento anterior e o pesquisador deve estar atento para o fato de não considerar óbvio o que não o é. Além disto, é fundamental saber encontrar o filme que responda suas questões. Depois há de se saber ler e interpretar os filmes levando em consideração todo o contexto que o envolve, para ela

Fazer do cinema uma fonte histórica determina evidentemente para começar avaliar a significação do filme no seu contexto sócio-econômico e político, localizado, muito freqüentemente, no quadro nacional, e, é claro datado. As estruturas de produção dos filmes têm sua história própria. [...] Análises precisas são, portanto, necessárias sobre a história dos próprios filmes no contexto histórico geral, para avaliar as significações possíveis da produção de um período, assim como estudar as formas de representações que eles utilizam. (LAGNY, 2009. p. 124).

O cinema no século XX tem relação com a história e a historicidade, a idéia é que não só se use o cinema como fonte da história, mas se faça história sob a influência do cinema e da imagem.

Se a história escrita está condicionada pelas convenções narrativas e lingüísticas, o mesmo ocorre com a história visual, ainda que neste caso sejam as próprias do gênero cinematográfico. Se aceitarmos que as narrações escritas são "ficções narrativas", então as narrações visuais devem ser consideradas "ficções visuais"; ou seja, não como espelhos do passado, mas sim como representações do mesmo. (ROSENSTONE, 1998. p.7)

Para Rosenstone (1998), as imagens trazem à história o desafio de trabalhar o audiovisual com o escrito e de passar a considerar a validade da história em imagens da mesma forma que a história escrita, sendo apenas sua forma de apresentar e representar diferente, basta para isto quebrar o cânone escrito em razão de outras formas de apresentação da narrativa histórica. O cinema como fonte para a história já é uma certeza, mas ainda temos que entender e superar as dificuldades em seu uso.

Uma das dificuldades apontada por Lagny (2009) é que o filme não é feito para ser arquivado como documento, mas para ser vendido como entretenimento. Desta forma ele tem classificações que são especificas de seu meio e podem causar confusão. Os historiadores tendem a dar mais ênfase aos documentários, considerados como filmes mais próximos da realidade, que buscam a transmissão do real, mesmo em suas montagens. Porém os filmes de ficção também podem ser considerados como fontes por suas representações nas imagens. Além disto, os limites entre os documentários e os filmes de ficção são difíceis de traçar.
Toda esta discussão é mais latente em torno dos filmes de ficção que retratam acontecimentos históricos. Esta vertente é o foco da atenção de Rosenstone (2010) ao compará-los.

[...] o pensamento histórico envolvido nos dramas comerciais é, em grande parte, o mesmo [do documentário histórico]: indivíduos (um, dois ou um pequeno grupo) estão no centro do processo histórico. Através de seus olhos e vidas, aventuras e amores, vemos greves, invasões, revoluções, ditaduras, conflitos étnicos, experiências científicas, batalhas jurídicas, movimentos políticos, genocídios. Mas fazemos mais do que apenas ver: também sentimos. (ROSENSTONE, 2010. p. 33)

A grande dificuldade está em vermos a história como escrita, e acreditar que esta escrita é a expressão da verdade enquanto os filmes, como imagens construídas não tem o mesmo estatuto de verdade. O mesmo Rosenstone (2009) faz uma análise de algumas obras do cineasta Oliver Stone e sua visão da história dos Estados Unidos em Nascido em 4 de julho (1989), Platoon (1986) , JFK, a pergunta que não quer calar (1991) como uma representação da história. Nele, eventos são inventados e modificados, momentos chaves são retratados conforme a visão do diretor, mas eles estão lá. A questão é que tanto o filme, quanto a escrita são manipulados. E este é o ponto do autor, a narrativa cinematográfica, assim como a narrativa histórica são construções, o que não tira o mérito e não invalida o uso dos filmes como fontes para o conhecimento da história, desde que, esteja clara e o historiador leve em conta está manipulação, analisando não somente as imagens, mas a forma como são montadas e desencadeada a ação juntamente com o texto, os diálogos, os sons, a narrativa cinematográfica.

Um bom exemplo destas questões é o filme O retorno de Martin Guerre (1982) adaptado do livro da historiadora Natalie Zemon Davis que faz a análise historiográfica do caso do camponês Martin Guerre, que em pleno século XVI, após casar-se com a jovem e bela Bertrande de Rols fora declarado impotente, abandonara a esposa e a aldeia, e teve o seu lugar ocupado por um impostor, que lhe roubara o nome e a posição. A autora utilizou materiais retirados da literatura ficcional, das narrativas populares junto com uma farta documentação cartorial, de inventários, testamentos, cartas pessoais, listas de óbitos para compor a narrativa. A própria Davis, menciona no prefácio, que muitos pontos da vida de Martin Guerre e da aldeia eram obscuros e que para manter uma narrativa concisa ela preencheu algumas lacunas de acordo com sua interpretação dos documentos. Isto é inventar, pura e simplesmente, embora sejam raros os casos em que os historiadores admitem este “preenchimento de lacunas”. O ponto onde queremos chegar é que os filmes, sejam de ficção ou documentários, são tão válidos para a história quanto os documentos escritos e em todos há manipulação para a reconstrução do passado. Esta mais que superada a idéia de “verdade histórica”.

O fato é que os filmes, as imagens são necessárias para a criação do imaginário social, neles podemos observar os valores e comportamentos cotidianos. A escrita da História, com seus cânones e suas regras, sua forma de linguagem conceitual afasta o público geral dos livros, este espaço é preenchido pelo audiovisual que, através das imagens torna a História mais fluida e quase um divertimento, desta forma, o imaginário social se prende ao que é visto nos filmes e toma suas representações como expressão da verdade histórica. Isto desperta a desconfiança de grande parte dos historiadores em relação ao audiovisual, de acordo com Hagemeyer (2012).

Isto é ainda mais evidente quando se tratam de produções hollywoodianas, do cinema industrial e comercial. Com seu objetivo claro de divertir e entreter, nem sempre preso a qualquer metodologia histórica, o cinema usa personagens e fatos históricos mesclados à narrativa ficcional e geralmente o público toma o que vê na tela como uma expressão da verdade. É o caso de muitos filmes já analisados por este prisma, Gladiador (2000), Cruzada (2005), entre outros. Filmes que utilizaram ambientes e personagens históricos e acabaram por dar a entender que os fatos ali ocorridos foram reais ou que aquela era a história real dos personagens. As desconfianças em relação ao cinema norte-americano são ainda maiores

Embora criticada por sua “superficialidade”, “repetição de clichês”, bem como suas “implicações ideológicas” no amortecimento da consciência das massas, as produções hollywoodianas se mantiveram ao longo do século XX como as maiores bilheterias. [...] De qualquer forma, se aceitamos o jogo proposto no cinema clássico como válido (álias, como boa parte do cinema internacional fez ao imitar seus procedimentos), devemos reconhecer a maestria atingida pelos estúdios norte-americanos na produção de efeitos narrativos com a câmera e a maneira como através deles consegue prender nossa atenção. (HAGEMEYER, 2012. p. 85)

Apesar das críticas e reservas em relação ao cinema hollywoodiano de grande escala, não podemos ignorar seu alcance e seu poder de criar imaginários. Em nossa pesquisa histórica, optamos por trabalhar com dois filmes hollywoodianos, dramas comerciais sem nenhuma intenção de ser históricos. São eles Drácula de Bram Stoker (1992) e Entrevista com o vampiro (1994). Ambos tem como personagem principal um vampiro e narram sua história, em Drácula, do ponto de vista de terceiros, em Entrevista com o vampiro, do ponto de vista do próprio vampiro. Entretanto o que nos chama atenção são as várias questões históricas que fazem parte da trama e que podemos analisar.

Partindo de Drácula, um dos pontos diz respeito exatamente a questão discutida anteriormente sobre a vinculação entre ficção e história. Adaptado do romance de Bram Stoker escrito em 1897, o filme produzido por Francis Ford Coppola criou um prólogo com a intenção de contar a história do conde Drácula. O filme inicia com uma introdução informando que esta se passa no ano de 1462 após a queda de Constantinopla quando os turcos otomanos tentavam dominar a Europa através das fronteiras orientais pela Transilvânia (atual Romênia). Para combatê-los surgiu um cavaleiro da Ordem do Dragão chamado Draculea. Saindo em combate ele deixa à sua espera a noiva, Elisabeta. As cenas que se referem à batalha mostram os inimigos sendo empalados, numa clara alusão à Vlad Tepes, o Empalador, personagem histórico mencionado de forma sutil por Stoker. Vencendo a batalha, ele se ajoelha e agradece à Deus por seu sucesso. Para se vingar da vitória os turcos atiram uma flecha no castelo dando a falsa notícia da morte de Drácula. Elisabeta, em desespero, se atira no rio cometendo o maior dos sacrilégios, o suicídio.

Ao retornar ele encontra a noiva morta e é informado pelos padres ortodoxos que sua alma não encontrará descanso, conforme os preceitos da tradição católica ortodoxa. Drácula se revolta e crava sua espada na cruz, renunciando a Deus e bebendo o sangue que começa a jorrar do corte feito no objeto sagrado, assim se autocondenando às trevas. Esta seqüência de cenas faz a conexão definitiva de Coppola entre Drácula, o vampiro e Drácula, o personagem histórico fundindo-os em um só personagem. A vinculação feita pelo filme Drácula de Bram Stoker com Vlad Tepes criou a idéia que a história ocorreu daquela forma abrindo questionamentos sobre a verdadeira natureza de Drácula e sua história ao mesmo tempo que os acontecimentos retratados na película foram tomados como uma biografia, revigorando uma série de lendas sobre ele, inclusive lendas que dizem ser ele um morto-vivo.    

Em Entrevista com o vampiro (1994), Louis de Pointe du Lac, o protagonista, é um vampiro solitário com cerca de 200 anos, considera-se vazio e sem propósito. Ao encontrar um repórter em um bar, decide lhe contar sua história para reviver seu passado e refletir sobre suas decisões. Ele inicia sua narrativa pelo ano em que foi transformado em vampiro, 1791; fala de sua existência como um morto-vivo, suas angústias e apreensões, demonstra ser uma criatura sempre em busca de entendimento de si e do mundo a sua volta. Foi transformado por Lestat de Liancourt, um vampiro tipicamente literário, que não tem moral, nem qualquer preocupação, vive apenas para satisfazer seu desejo por sangue e diversão. Em seu caminho, eles encontram Claudia, uma órfã que transformam numa criança vampiro. Louis, Lestat e Claudia têm finais diferentes e sua convivência se passa entre amor e ódio, frustrações e tentativas de fazer parte do mundo passando despercebidos entre os mortais através dos séculos, vendo a sociedade modificar-se e buscando seu espaço nela. Nele podemos analisar através do protagonista as angústias e os medos do mundo pós moderno, da sociedade cada vez mais individualista e solitária, em sua fala final ao repórter ele diz ser uma criatura vazia e sem propósito.

Todas estas questões, que discutimos de maneira breve e simples, não se esgotam. Ainda há muito a ser esclarecido e modificado no que diz respeito ao uso de fontes audiovisuais na história, entretanto um longo caminho já foi percorrido e a validação de estudos, como o nosso, depende da adequação às regras metodológicas do processo de pesquisa histórico, como adverte Lagny (2009) o filme, como qualquer outro documento, deve responder às questões do historiador. Ser considerado e analisado em seu contexto, trabalhado junto à outras fontes complementares que também devem ser analisadas, como sua produção e recepção, sua narração e sua organização para que possa produzir sentido sendo utilizado e analisado visando questões além do campo cinematográfico, visto que, ele não é uma produção isolada, ele é parte da cultura em que está inserido. Ele é um produto situado num contexto cultural e ligado à imagem, à arte, à música, à literatura principalmente, pois a maioria dos filmes são adaptações literárias.

Além disto, para trabalhar com cinema o historiador deve ter conhecimento da história do cinema e saber ler as imagens, da narração e suas construções, a questão do ponto de vista abordado no filme e o que ele pretende demonstrar com isto. Mesmo sendo uma fonte ainda com grandes dificuldades metodológicas, o cinema é um rico documento histórico e ainda há muito a ser explorado pelos historiadores.

Postas estas questões, nos arriscamos em propor algumas questões e metodologias pensadas por Jorge Nóvoa (2009) o historiador ou o professor não precisa ter um conhecimento profundo da estética, técnicas e linguagem cinematográficas para fazer uma boa análise dos filmes, basta saber usá-lo como documento visto que, como já dissemos anteriormente, ele é um modelador de mentalidades, sentimentos, emoções e registro de imaginários e ações dos homens independente de seu local geográfico.

Um gesto, as pessoas nas ruas, o estilo dos edifícios, o interior das casas, a indumentária dos personagens em um bar, a expressão de seus rostos, tudo tem a sua importância exatamente porque constituem a matéria de outra história, distinta da história narrada. [...] as crenças, as intenções, ou seja, o imaginário humano, faz parte da história. (NÓVOA, 2009. p. 30)

Para este autor uma sugestão de metodologia para o uso em sala de aula seria realizar um planejamento prévio definindo qual e porquê determinada temática; o que pretendemos ensinar com ela; fazer um levantamento das películas disponíveis; estabelecer a conexão entre seu conteúdo e a temática a ser tratada; pesquisar os processos e fatos históricos abordados pelos filmes e o período em que a produção foi realizada; pesquisar a biografia dos autores e as condições de produção; analisar, criticar e problematizar o conteúdo das películas, somente assim poderemos transforma-las em fontes documentais, independentes de seu gênero ou narrativa, se é uma ficção, um documentário, um filme épico ou mesmo de terror como aqueles que são objeto de nossa pesquisa. O que importa é saber utilizar e aproveitar a riqueza de recursos que temos em mãos ao trabalhar com imagens cinematográficas.

REFERÊNCIAS
AUMONT, J. A imagem. Campinas, SP: 1993.
BARROS, J. D. Cinema e história: entre expressões e representações. In: NÓVOA, Jorge; _____. (orgs.). Cinema-história: teoria e representações sociais no cinema.  Rio de Janeiro: Apicuri, 2008. p. 43-83.
BLOCH, M. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
CARDOSO, C. F.; VAINFAS, R. História e análise de textos. In: _____. (orgs.). Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997. p. 401-417.
CHARTIER, R. Imagens. In: BURGUIÈRE, A. (org.). Dicionário das ciências históricas. Rio de Janeiro: Imago, 1993. p. 405-408.
DRÁCULA DE BRAM STOKER. Título original: Bram Stoker’s Dracula. Direção: Francis F. Copolla. Produção: Francis F. Copolla, Fred Fuchs e Charles Mulvehill. EUA: American Zoetrope e Columbia Pictures Corporation, 1992. 1 DVD (127 min.). son., color.
DUMOULIN, O. Documento. In: BURGUIÈRE, A. (org.). Dicionário das ciências históricas. Rio de Janeiro: Imago, 1993. p. 243-244.
ENTREVISTA COM O VAMPIRO. Título original: Interview with the vampire. Direção: Neil Jordan. Produção: David Geffen e Stephen Wooley. EUA: Geffen Pictures, 1994. 1 DVD (122 min.). son., color.
FERRO, M. O filme: uma contra-análise da sociedade? In: _____. Cinema e História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. p. 79-115.
FOUCAULT, M. Arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
HAGEMEYER, R. R. História & audiovisual. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.
JANOTTI, M. L. O livro Fontes históricas como fonte. in PINSKY, C. [org.] Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005. p. 9-22.
LAGNY, M. O cinema como fonte da História. In: NÓVOA, J.; FRESSATO, S. B.; FEIGELSON, K. (orgs.). Cinematógrafo: um olhar sobre a História. São Paulo: UNESP, 2009. p. 99-131.
MENESES, U. T. B. de. Fontes visuais, cultura visual, História visual. Balanço provisório, propostas cautelares. In: Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 23, nº 45, 2003. p. 11-36.
Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rbh/v23n45/16519.pdf >. Acesso em: 10 ago. 2011.
NAPOLITANO, M. A história depois do papel. in PINSKY, C. B. (org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005. p. 235-289.
NÓVOA, J. Apologia da relação cinema-história. In: _____, BARROS, J. D. (orgs.). Cinema-história: teoria e representações sociais no cinema.  Rio de Janeiro: Apicuri, 2008. p. 13-40.
PESAVENTO, S. J. História e história cultural. Belo Horizonte: Autêntica: 2005.
ROSENSTONE, R. A história nos filmes, os filmes na história. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
_____. História em imagens, história em palavras: reflexões sobre as possibilidades de plasmar a história em imagens. In: Revista Olho da História, n. 5. 1998.
SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Iconografia. In: _____. (orgs.). Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2006. p. 198-201.
TURNER, G. Cinema como prática social. São Paulo: Summus Editorial, 1997.


PERGUNTAS

O texto deixou claro que o filme deve ser analisado como documento pelo historiador. Mas na sala de aula ele é trabalhado como uma ferramenta no ensino em História? Ou apenas discutido enquanto
documento? Nome: José Luciano de A. Dias Filho.

Bom dia José,
Podemos fazer ambos, discuti-lo enquanto fonte para a História por conta de suas representações de pessoas, lugares, imaginários etc, e também podemos utiliza-los como ferramenta de ensino analisando estas mesmas representações.
Espero ter respondido,
abs, Maytê

Você acha que os professores da rede pública de ensino ( Fundamental e Médio ) estão preparados para usar esta metodologia de ensino? por Vilma da Silva Barbosa

Bom dia Vilma,
Sim, acredito que os professores da rede pública tenham sim capacidade para trabalhar com esta metodologia.
Os filmes podem ser usados para muito mais do que ilustrar conteúdos ou apontar imprecisões e erros históricos. Podemos utiliza-los como forma de entender as representações e imaginários de um determinado período.
Por exemplo: um filme popular (Hollywood) como Gladiador pode e deve ser utilizado para apontar as representações que fazemos hoje sobre a Roma Antiga e fazer com que os alunos observem como se davam as relações de poder mostradas no filme. Era possível um general tornar-se gladiador? Quem eram os gladiadores? Qual seu lugar dentro da estrutura social romana? E o imperador, quem era? Os imperadores romanos tinham realmente aquele poder e como o utilizavam?
Como se dava a hierarquia? Como funcionava a política do pão e circo? Podemos aproximar estes eventos com o mundo atual?
Uma série de perguntas pode ser feita e analisada usando os filmes.
Todo professor pode utilizar esta metodologia, trabalhar com imagens torna muito mais eficaz e prazerosa a fixação de conteúdos nas escolas.
Abs,
Maytê Vieira

Qual sua opinião quanto ao uso de programas produzidos para a TV aberta no ensino de História?
Janaina Jaskiu

Acredito que possam ser utilizados da mesma forma que os filmes para analisar as representações sociais e os imaginários que temos de nosso mundo ou de períodos anteriores.
Podemos utilizar, por exemplo, as novelas para analisar as representações e os lugares dos personagens e trazer para o mundo do aluno aquelas representações.
Como são representados os mundos sociais? Quem são os personagens? Um determinado programa ou novela traz personagens ricos e pobres, onde eles vivem? A representação de suas vidas tem relações com a realidade? Em que estão conectadas as indagações sociais?
Atualmente temos novelas apresentando relações homoeróticas, como nossos alunos entendem isto? Como a família e a sociedade se relaciona com estas questões? Isto ajuda a desfazer preconceitos? Todas estas questões podem ser utilizadas para os programas da TV aberta tanto quanto são utilizadas para os filmes, os princípios são os mesmos.
Espero ter respondido sua questão.

Abs,
Maytê Vieira

Em minha monografia decidi trabalhar com fonte fílmica e acabei descobrindo uma paixão. Descobrir que o cinema apesar de em alguns lugares ser visto como algo inculto, em outros como o México até década de 30 a produção cinematográfica era intensa. Você poderia me indicar literatura sobre como trabalhar história e cinema? Iria me ajudar muito. Obrigada. por Noeli Zettel

Boa tarde Noeli,
Que bom que você decidiu trabalhar com cinema, realmente é apaixonante.
Posso te indicar várias bibliografias que utilizo:

AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas, SP: Papirus, 1993;
COSTA, Antonio. Compreender o cinema. Rio de Janeiro: Globo, 1987;NÓVOA, Jorge; BARROS, José D’Assunção. (orgs.). Cinema-história: teoria e representações sociais no cinema.  Rio de Janeiro: Apicuri, 2008;
HAGEMEYER, Rafael Rosa. História & audiovisual. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012;
LIPOVETSKY, Gilles. A tela global: mídias culturais e cinema na era hipermoderna. Porto Alegre: Sulina, 2009;
MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica. São Paulo: Brasiliense, 2003;
NÓVOA, Jorge; FRESSATO, Soleni Biscouto; FEIGELSON, Kristian. (orgs.). Cinematógrafo: um olhar sobre a História. São Paulo: UNESP, 2009;
RAMOS, Fernão Pessoa. Teoria contemporânea do cinema. São Paulo: Senac São Paulo, 2005. (Volumes I e II);
RANCIÈRE, Jacques. L’historicité du cinéma. In: BAECQUE, Antoine de; DELAGE, Christian (org.). De l’histoire au cinéma. Paris: IHTP CNRS/ Éditions Complexe, 1998;
ROSENSTONE, Robert. História em imagens, história em palavras: reflexões sobre as possibilidades de plasmar a história em imagens. In: Revista Olho da História, n. 5. 1998;
_____. A história nos filmes, os filmes na história. São Paulo: Paz e Terra: 2010;
TURNER, Graeme. Cinema como prática social. São Paulo: Summus Editorial, 1988;
VANOYE, Francis; GOLIOT-LÉTÉ, Anne. Ensaio sobre a análise fílmica. Campinas, SP: Papirus, 1994.
XAVIER, Ismail (org.). O cinema no século. Rio de Janeiro: Imago, 1996;

Esta é apenas uma bibliografia inicial para dar conta de uma visão geral sobre o trabalho com fontes em Cinema e História.

Obrigada e abs,

Maytê Vieira

30 comentários:

  1. Em minha monografia decidi trabalhar com fonte fílmica e acabei descobrindo uma paixão. Descobrir que o cinema apesar de em alguns lugares ser visto como algo inculto, em outros como o México até década de 30 a produção cinematográfica era intensa. Você poderia me indicar literatura sobre como trabalhar história e cinema? Iria me ajudar muito. Obrigada. Noeli.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde Noeli, já respondi sua pergunta acima, inclusive elecando uma série de bibliografias que eu uso como sugestão para você. Abs,

      Excluir
  2. Vilma da Silva Barbosa5 de maio de 2015 às 20:14

    Você acha que os professores da rede pública de ensino ( Fundamental e Médio ) estão preparados para usar esta metodologia de ensino?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde Vilma, a resposta a sua pergunta está publicada acima, logo após o texto. Abs,

      Excluir
    2. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
    3. Vilma da Silva Barbosa13 de maio de 2015 às 18:33

      Ola professora Maytê,
      Obrigado pela resposta referente a minha pergunta.
      Parabéns pelo texto.
      abs.
      Vilma da Silva Barbosa

      Excluir
  3. Fabiano santos de Sousa11 de maio de 2015 às 06:15

    Frequentemente somos questionados sobre o uso de filmes em sala de aula, vivemos em uma cultura de que o professor que se utiliza de tal recurso é o professor "enrolador", que apenas quer ganhar tempo em suas aula, vc na sua experiência, como desmitificar tal situação.
    Att
    Fabiano Santos de Sousa

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
    2. Boa tarde, Fabiano, nós devemos problematizar o filme. Esta ideia equivocada se estabeleceu por conta do uso indiscriminado de mídias sem a problematização correta. O que eu quero dizer com isto? Quando pretendemos usar um filme para o ensino devemos ter claros os objetivos que intentamos atingir e informá-lo aos alunos. Claro que o tipo de filme e a forma como será trabalhado depende da série trabalhada.
      Eu uso como metodologia a indicação do prof. Jorge Nóvoa que me parece bem pertinente e está descrita no texto publicado.
      Além disto, devemos pedir atividades aos alunos baseadas no filme apresentado, deixando bem claro para eles a importância dela, somente assim, conseguiremos derrubar esta ideia de que "passar filme e enrolar e matar horário". Espero que tenha ajudado. Abs,

      Excluir
  4. Como podemos passar uma filme em sala de aula e desenvolver uma historia real do filme.

    Aluna Marcia Aparecida Orsi

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Marcia, desculpe mas não ficou clara sua questão vou tentar responder como entendi. Podemos fazer comparações, de forma alguma usar o filme somente como "apontador dos erros históricos", mas sim, como uma maneira de entender a representação da História no filme. Gosto muito de trabalhar com o cinema de Hollywood por conta do imaginário que ele cria e difunde no mundo todo com seu alcance, então vou usar um conhecido "clássico" como exemplo que já foi analisado por vários autores e acredito que a grande maioria das pessoas já assistiu ou já ouviu falar: ... E o vento levou (1939). O filme apresenta a Guerra de Secessão entre o Norte e o Sul que desencadeou, entre outras coisas, a abolição nos Estados Unidos.Porém a convivência apresentada entre os escravos e os senhores no Sul (perdedor da guerra e que defendia a escravidão) mostra uma relações de afeição e ameniza as condições sociais dos primeiros. Podemos aproximar com a realidade, inclusive brasileira e discutir a real configuração destas representações e o porquê desta manipulação da realidade pelo cinema. Espero ter respondido, abs

      Excluir
  5. Juraci Alves Miranda11 de maio de 2015 às 09:59

    Ao utilizar um determinado filme para trabalhar um conteúdo de história é preciso que o professor faça a leitura e interpretação minuciosa da trama proposta. O filme apresentado deve ser analisa no seu contexto e entendido segundo Turner(1993) como a representação da prática social. Em sua opinião, é possível fazer essa análise, bem como perceber a ideologia proposta na história, trabalhando apenas com recortes?
    Juraci Alves Miranda

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Juraci, é possível sim. Entretanto para que isto funcione você deve ter bem claro qual o contexto que quer expor, discutir e debater para poder fazer os recortes corretos. O ideal é aprender a utilizar você mesma um programa de edição de vídeo (simples, como o Windows Movie Maker) para que você faça do jeito que planeja ao invés de pegar recortes prontos que nem sempre contemplam o conteúdo que você quer. Espero ter respondido corretamente, dúvidas, faça novas perguntas, responderei com prazer! Abs,

      Excluir
  6. Posso me utilizar dos filmes em sala de aula como objeto de estudo, dimensionar assuntos através dele. Mas poderia utilizar alguns comentários extra-filme para relatar o que há de fato nos livros históricos, ou isso descaracterizará o filme?

    Adriana Oliveira Centurion

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Adriana, não vejo como poderia descaracterizar. Você pode, como sugestão, apresentar estes comentários comparando o filme com os fatos históricos, não com a intenção de apontar imprecisões, mas para mostrar as manipulações e ideologias que fazem com que os produtores modifiquem a história de acordo com suas ideias a respeito dela. Abs,

      Excluir
  7. No texto, você deixou claro que é possível trabalhar filmes de ficção em sala de aula fazendo uma análise histórica sobre ele e que para isso seria necessário um questionário antes do filme com as informações necessárias para a análise do mesmo. Você acredita ser interessante um professor levar seus alunos a um cinema para fazer a análise de filmes atuais? Ou seria melhor a análise apenas de filmes mais antigos e em sala de aula? E o questionário seria feito em que momento, antes ou depois da exibição do filme?
    Rebeca de Melo Araújo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sabemos o quanto é interessante se trabalhar história tanto com filmes de ficção como de história verídicas, isso enrriquece a aula, se o professor tiver um bom conhecimento sobre o filme a aula fica muito interessante

      Excluir
    2. Com certeza fica muito interessante, temos muitas discussões a respeito da metodologia em sala de aula e nem sempre usamos tudo que podemos, mas é, como você comentou, fundamental que o professor tenha conhecimento do filme e do conteúdo e bem claro o que deseja, caso contrário, ficará a impressão de uma atividade para "matar tempo" e "enrolar" aula. Abs e obrigada pelo complemento.

      Excluir
    3. Oi Rebeca, ambas as opções são válidas. Não vejo porquê usar somente filmes antigos, afinal, os atuais demonstram nosso contexto social do momento, por exemplo, minha pesquisa gira em torno do imaginário sobre os vampiros, neste caso os filmes antigos retratam monstros, criaturas animalescas que só se interessam em caçar sua presa. Os mais atuais foram humanizando-os, trazendo-os cada vez mais perto de problemas, sentimentos e situações humanas de convivência social, até mesmo nos filmes e séries mais recentes eles são apresentados como adolescentes com os mesmos problemas, frustrações e reações de qualquer outro adolescente. A questão é entender como isto mudou? O que se transformou e permitiu a aceitação deste novo formato, desta nova representação do monstro, que já não é mais monstro, é somente mais um de nós? Isto é possível ver em filmes novos.
      Quanto a levar os alunos ao cinema é uma boa ideia, entretanto dependendo das idades traz outros problemas que cabe a você avaliar a possibilidade desta atividade extra classe. E em relação ao questionário, debate ou atividade o ideal seria após o filme e, claro, você deve ter bem preparado e embasado o que quer que eles (os alunos) percebam. Espero ter respondido, abs.

      Excluir
  8. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  9. Está sendo um prazer participar e responder a todas estas questões, fiquem à vontade para fazer mais ou tirar dúvidas se em algum momento eu respondi de forma incompleta.
    Obrigada a todos, abs,

    ResponderExcluir
  10. Como utilizar os filmes em sala de aula como material de conhecimento, se para muitos ele é visto apenas como entretenimento?
    Aline Beatriz Barbosa de Melo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Aline, nós devemos problematizar o filme. Quando pretendemos usar um filme para o ensino devemos ter claros os objetivos que intentamos atingir e informá-lo aos alunos. Claro que o tipo de filme e a forma como será trabalhado depende da série trabalhada.
      Eu uso como metodologia a indicação do prof. Jorge Nóvoa que me parece bem pertinente e está descrita no texto publicado.
      Além disto, devemos pedir atividades aos alunos baseadas no filme apresentado, deixando bem claro para eles a importância dela, somente assim, conseguiremos derrubar esta ideia de que "passar filme é enrolar e matar horário". Espero que tenha ajudado. Abs,

      Excluir
  11. Juraci Alves Miranda14 de maio de 2015 às 10:38

    Ao utilizar um determinado filme para trabalhar um conteúdo de história é preciso que o professor faça a leitura e interpretação minuciosa da trama proposta. O filme apresentado deve ser analisa no seu contexto e entendido segundo Turner(1993) como a representação da prática social. Em sua opinião, é possível fazer essa análise, bem como perceber a ideologia proposta na história, trabalhando apenas com recortes?
    Juraci Alves Miranda

    ResponderExcluir
  12. Gostaria de parabeniza-la pela produção voltada à inovação das práticas em sala de aula e as oportunidades de analisar as interpretações dessa escolha. As produções cinematográficas recentes tem se preocupado com uma exibição bastante voltada ao impacto visual que as cenas podem causar no público, sem serem cuidadosos com os anacronismos. Recomenda uma análise desses aspectos mais voltados à percepção dos alunos do Ensino Médio ou acredita que seriam percepções mais acadêmicas? Anna Paula Silveira - estudante Licenciatura História - UNOPAR

    ResponderExcluir
  13. Como citado no texto muitas são as possibilidades de interpretação de um filme e o que importa segundo Sorlim e Morettin é o discurso do filme e a análise de sua narrativa. Acredito que essa tarefa seja do professor em mediar e conduzir as reflexões e adequações do filme ao conteúdo. O que acredito não ser possível mais é utilizar o filme sem um propósito didático como muito se fez. Rubiamara

    ResponderExcluir
  14. Marcia Aparecida Orsi15 de maio de 2015 às 05:24

    Como os filmes, enquanto meios de ensino, têm sido utilizado na sala de aula.

    ResponderExcluir
  15. Rafael Moura Roberti15 de maio de 2015 às 06:20

    Já fiz essa pergunta em outros textos deste simpósio mas quero repeti-la: como levar a eles os filmes que eles não assistem?!

    ResponderExcluir
  16. A questão de passar filmes em sala de aula é complicado, na maioria das vezes dependendo do filme, quase nenhum dos alunos se interessa, ou falta interesse dos professores na escolha do titulo dos filmes. Qual a melhor maneira de trabalhar os filmes em salas de aula.


    Gilmar da Silva Lima

    ResponderExcluir
  17. As transformações ocorridas na sociedade contemporânea, bem como as novas perspectivas historiográficas, tem estimulado o debate sobre a necessidade de novos metodologias no ensino de História e o uso de filmes é uma prática interessante, por desafiar o aluno na construção de uma prática pedagógica reflexiva e dinâmica, além de ser capaz de levar o aluno a aprender e apreender de uma forma significativa. Os filmes podem levar o aluno a se identificar com a realidade e se reconhecer como um sujeito da História e da produção do conhecimento histórico.
    Valdenice Gonçalves de Souza
    valdenice904@gmail.com

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.