Helen Czarnieski

REFLEXÕES SOBRE FONTES HISTÓRICAS EM SALA DE AULA E A EXPERIÊNCIA NO PIBID
Helen Karine Czarnieski
UNICENTRO


A partir de 1980 aconteceu no Brasil o processo da redemocratização, processo que influenciou a ocorrência de muitas mudanças no ensino de história, de novas metodologias, novos conteúdos, novas discussões sobre ensinar história, tais mudanças refletem atualmente. Pois um dos objetivos de ensinar história é que se possa promover uma autonomia dos cidadãos como sujeitos críticos de sua própria história, para que possam mudar a sociedade que os cercam. Com base nisso, podemos ressaltar que uma das temáticas relevantes acerca no ensino e das atuais discussões historiográficas é o uso de fontes históricas.

O texto visa à discussão de tal temática com o objetivo de levar a uma reflexão de como seria usada em sala de aula, com o objetivo de que as fontes históricas sejam ferramentas na construção do conhecimento histórico. O embasamento para essa discussão vem de dois pontos, usando a teoria de alguns autores e a experiência no PIBID(Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência/Capes), que ocorreu no ano de 2014 pela Unicentro (Universidade Estadual do Centro Oeste). Segundo as palavras de Caimi (2008, p. 129, 130):

O tratamento do tema “fontes históricas na sala de aula” remete, inexoravelmente, ao estabelecimento de relações com as atuais discussões historiográficas, porque a história, como disciplina escolar, ainda que possua especificidades e finalidades que lhes são próprias, não prescinde de um estreito diálogo com a ciência de referência – no caso a história acadêmica – e com os princípios, fundamentos e métodos que regem a pesquisa histórica. Tal entendimento não significa decretar a dependência da história escolar em relação ao conhecimento acadêmico, tampouco tomá-la como um saber inferior na hierarquia de conhecimentos, mera vulgarização didática de um corpo de saberes produzido pelos “cientistas”[...]

Baseado em Caimi podemos perceber que a discussão acadêmica a cerca de fontes históricas vêm criando uma relação com o ensino básico, o intuito não é comparar e desmerecer nenhum dos dois, pois cada um tem suas especificidades e seus objetivos. Mas é importante frisar essa relação considerando que as universidades formam professores para o ensino básico, cabe a nos historiadores tentarmos levar essa discussão a educação básica e tentarmos aplicá-la num plano de ação para que não seja encontrado apenas no campo da teoria.

Como já havia dito que há novas discussões historiográficas sobre o uso de fontes históricas, mas outro ponto que é importante ressaltar também se pode ver essa necessidade nos documentos que regem o ensino básico. Os documentos vêm estimulando o uso de tais fontes para o processo de ensino, como podemos ver na fala sobre os PCN’s de Xavier (2010, p.640).

Uma das temáticas pertinentes à discussão sobre ensino de história nas últimas décadas se refere ao uso de documentos históricos na prática de sala de aula e mais especificamente desde o fim do século XX até o momento, com vistas à produção do conhecimento em sala de aula. Os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) apontam para a necessidade de demonstrar ao aluno de que forma a história é feita, fator que se refere diretamente a fontes históricas [...].

Diante disse podemos considerar uma necessidade com esse uso, talvez porque as fontes históricas são vestígios do passado que constroem a história, mas não são dados prontos e acabados, são objetos que precisam ser problematizados para que assim respondam as perguntas feitas pelo historiador, assim como na sala de aula essas fontes devem ser pensadas não para formar historiadores, mas sim serem seres pensantes. Mas como pensar tais fontes? Como problematizá-las e significar algo para o aluno? Essas perguntas são complexas de serem respondidas, mas a priori o professor precisa estar embasado teoricamente, precisa saber o contexto daquela fonte para não ser anacrônico e ter o objetivo de problematizá-la, ou seja, mostrar ao aluno que ele pode fazer perguntas, pensar de um ponto de vista crítico quebrando verdades absolutas que é papel da história, também não fazer juízo de valor, não podendo usar a fonte como um comprovador do seu discurso, como uma ilustração, mas como uma construção ao longo do tempo, também tentando ligar a sua realidade o que acho de modo primordial ter significado e estar ligado a perguntas do tempo do aluno em que vive, novamente segundo Caimi (2008, p.141):

Quanto ao uso de tais documentos/fontes em sala de aula, há importantes indicações metodológicas que preconizam o papel ativo do estudante nos procedimentos de compreensão e interpretação. Mais do que objetos ilustrativos, as fontes são trabalhadas no sentido de desenvolver habilidades de observação, problematização,análise, comparação, formulação de hipóteses, crítica, produção de sínteses, reconhecimento de diferenças e semelhanças, enfim, capacidades que favorecem a construção do conhecimento histórico numa perspectiva autônoma.

Agora se referindo a experiência com o uso de fontes históricas, inicio-relatando que foi a primeira propiciada através do PIBID História Unicentro, pois ainda estou no 3º ano da graduação, coma organização de uma oficina por mim e meu colega. Usamos no caso um documentário como fonte, a temática era acerca dos indígenas, a escolha se deve pela lei 11.645 que prevê a obrigatoriedade do ensino de história indígena.

Com isso tínhamos por objetivo pensar a construção do direito indígena atualmente, preparamos um material com base na metodologia de uso de tal fonte em sala de aula, explicamos o que era o documentário que não trazia uma verdade, mas sim um conjunto de interpretações frutos de seu tempo, das escolhas, dos interesses daqueles que o produziram e seus objetivos com tal produção, usamos uma ficha técnica, explicamos o contexto e começamos a questionar os alunos sobre tais pensamentos, sobre qual o objetivo daquela construção com debates.

Cabe citar alguns pontos importantes que nos causaram uma percepção, a turma era pequena e participativa, lá havia alunos surdos que ligaram aquilo para si, comparando a luta da comunidade surda atualmente pelos seus direitos, percebemos que alguns alunos desconstruíram também os preconceitos que tinham acerca dos indígenas como ser passivo, aculturado, único e os perceberam como cidadãos dignos de direitos e o resto da turma preferiu não falar talvez por timidez ou não tenham entendido nossa proposta, foi uma experiência ótima e desafiante.
           
Com essa experiência posso conclui-se que o uso de fontes históricas em sala de aula é importantíssimo, mas que deve ser feito com cautela, muito bem embasado e com segurança pelo professor, não deve ser um uso de fontes só para atender a historiografia, ou PCN’s e assim sendo mal problematizado, também é necessário não banalizar o uso de tais materiais, sendo necessárias poucas fontes e bem problematizadas, já que pelas dificuldades do ensino básico, o professor não conseguiria trazer fontes todas as aulas, pelo tempo que se gasta problematizando, pelo currículo que se é preciso atender e pela grande quantidade de aulas que o professor precisa ministrar.

REFERÊNCIAS:
ABUD, Kátia Maria. O Cinema no ensino de História. In: Ensino de História. São Paulo: Cengage Learning, 2010, p. 165-177.
CAIMI, Flávia Eloisa. Fontes históricas na sala de aula: uma possibilidade de produção de conhecimento histórico escolar? Porto Alegre:Anos 90,v.15, p.129-150, 2008.
PEREIRA,Nilton Mullet; SEFNER,Fernando. O que pode o ensino de história?Sobre o uso de fontes na sala de aula. Porto Alegre: Anos 90, v.15, p. 113-128, 2009.
ROCHA, Aristeu Castilhos da. Desafios para o ensino de história indígena e cultura afro-brasileira e indígena.Jornada Nacional da Educação Santa Maria: Unifra, p.1-9.
SALES, Eric de. História e Documentos: Reflexão para o uso em sala de aula. Brasília: Revista Solta a Voz, v.20, p. 233-247¸ 2009.
SILVA, Edson. Povos Indígenas: História, cultura e o ensino a partir da lei 11.645. Petrolina:UPE, Revista Historien, v. 7, p. 39-49, 2012.
XAVIER, Érica da Silva. Ensino e História: O uso de fontes históricas como ferramentas na produção de conhecimento histórico. Jacarezinho: Revista Anais Semana de História da UENP, p. 639-654, 2010.


4 comentários:

  1. Olá, gostaria de saber mais informações acerca da atividade desenvolvida a partir do PIBID: planejamento, escolhas e reflexões acerca da realização da atividade.

    Bittencourt (2008) sugere três etapas para a construção de um roteiro de análise que ajudaria à compreender um documento:

    1ª) Sobre a existência do documento: o que vem a ser o documento? O que é capaz de dizer? Como podemos recuperar o sentido do seu dizer? Por que tal documento existe? Quem o fez, em que circunstâncias e para que finalidade foi feito?

    2ª) Sobre o significado do documento como objeto: como e por quem foi produzido? Para que e para quem se fez essa produção? Qual é a relação do documento com o seu contexto histórico? Qual a finalidade e o que comanda a sua existência?

    3ª) Sobre o significado do documento como sujeito: por quem fala tal documento? De que história particular participou? Que ação e pensamento estão contidos em seu significado? O que fez perdurar?

    Elizete Gomes Coelho dos Santos

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  2. Como você avalia o uso de fontes no ensino de História para uma aprendizagem efetiva?

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Olá, gostaria que desse mais informações sobre o que compreende pro fonte histórica, pois quando falas " o professor não conseguiria trazer fontes todas as aulas, pelo tempo que se gasta problematizando" verifico uma não clara relação empoderamento do mesmo. Obrigado pela atenção, aguardo sua resposta.

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